quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Hoje... tão só... tão longa espera

Hoje eu estou sozinho. Posso ouvir o som do vento batendo na janela, o canto dos pássaros; posso olhar para o céu e ver seu azul e suas nuvens tão delgadas, de um branco imaculado, puras como o sorriso de uma criança.
Hoje posso sentir a vida correndo em meu corpo, pois estou só comigo mesmo. Posso sentir o sangue correndo em minhas veias, sentir o ar entrando em meus pulmões, posso-me sentir simplesmente vivo. Sentir as batidas do coração, olhar ao longe com visão clara e ouvir todos os sons ao meu redor, ou posso ouvir simplesmente o palpável silêncio.
Hoje, sozinho, posso fazer tudo, ou posso fazer nada, ou ficar apenas observando o tempo passar, ora lento como uma eternidade, ora rápido em sua loucura desvairada.
Hoje posso sentir todos os meus sentidos. Posso tudo ver, mas posso fechar os olhos e nada enxergar; posso ouvir os sonhos, ou ficar em silêncio; posso sentir o cheiro da vida, da mesma forma que sinto o aroma do não-cheiro; posso sentir o calor na pele ao abraçar o mundo, ou abraçar a mim mesmo; posso sentir o gosto doce da vida, ou ficar com o não-gosto da solidão na boca.
Hoje, tão só, posso dar mil voltas em torno de mim mesmo, em uma espécie de círculo vicioso, posso andar de um lado a outro, ou posso ficar parado, cansado de tanto fazer e a canto algum chegar.
Hoje, a sós comigo mesmo, tenho todo o tempo do mundo, ao mesmo tempo em que não tenho tempo a perder.
Hoje, tão só, nessa longa espera, só me resta esperar, até alguém chegar, até alguém chamar meu nome, até alguém me dar um abraço e acabar de uma vez por todas com essa solidão que tanto me faz bem, mas que, ao mesmo tempo, me faz tanto mal.

domingo, 18 de setembro de 2011

Retrospectiva de uma vida em profissões

Sempre que me perguntavam, quando eu era menino, o que eu queria ser quando crescesse, respondia de pronto: astronauta. Eu queria poder entrar num foguete e subir, subir e subir, chegar ao céu, ver a Terra minúscula lá de cima, chegar perto das estrelas, pegar carona num cometa e visitar outros planetas. O tempo foi passando e, mais crescido, passei a dizer que não queria mais ser astronauta, mas sim um estudioso (na época eu não sabia dizer o nome da profissão) de dinossauros. Queria conhecer as espécies, desenterrar todos aqueles gigantescos ossos e brincar de quebra-cabeça, até reconstruir com precisão, montando peça por peça (ou melhor dizer: osso por osso), o dinossauro. Essas duas profissões (se bem que profissão, naquela época, quando eu era menino, era algo que eu não entendia. Eu entendia, sim, apenas a pergunta “ser quando crescer?”, e não se falava, em momento algum, em “profissão”) representam todo um mistério, fascínio e fantasia a que todo menino entende como interessante.
            O tempo passou, e eu já não era mais o menino que queria ser astronauta nem mais o que queria estudar dinossauros; já tinha uma mentalidade menos fantasiosa, e estava naquela maravilhosa e confusa fase a vida a que se chama comumente de “pré-adolescência”. Nessa época, se quer ser é uma espécie de herói, e eu pensava, já arquitetando toda uma carreira, em vir a ser bombeiro e salvar pessoas, apagar incêndios. Se não fosse possível, pensava em ser um agente, tal como eu assistia nos filmes de Hollywood, pensando (em minha fantasia-juvenil) que aquilo era real.
            Na adolescência propriamente dita, no período vulgarmente chamado de puberdade, eu queria chamar a atenção das meninas (como todo adolescente que se preze) e ser um super-astro, ter muito dinheiro e ser muito famoso. Queria montar uma banda, que seria considerada “a maior banda de todos os tempos da última semana”, os videoclipes seriam os mais assistidos, faria muitos shows por mês e teria uma legião de fãs e todas as garotas iriam chamar pelo meu nome. Esse foi o primeiro sonho de profissão que eu tentei realizar. Comprei um violão e comecei a escrever umas músicas bem depressivas e melancólicas. Mas logo vi que não levava muito jeito pra coisa. Não tinha o menor jeito/vocação para tocar qualquer instrumento musical e as minhas letras (poesias) eram pobres de rima e ritmo. Desisti da ideia de ganhar garotas sendo um astro do rock, e parti para algo mais possível: ser jogador de futebol. Comecei jogando no time da rua, chegando a treinar no do bairro e participando de torneios no da escola. Cheguei a participar de alguns torneios, os “peneirões”, mas nunca passei em nenhum e, convenhamos, apesar de não ser um jogador dos mais “perebas” dos times que participei, também nunca fui nenhum craque de bola. Desisti da ideia de ser um craque do futebol e jogar na Seleção Brasileira, desisti de ser um super-astro do rock, ficando, assim, a frustração de não ter o meu nome gritado pela torcida nem pela turba de fãs enlouquecidas.
            O tempo passa, a vida passa, e já próximo da porta da “idade adulta”, pensei em que profissão seguir (pela primeira vez na vida, surgia a ideia/conceito de “profissão”). A primeira coisa que me passou pela cabeça foi ser médico, mas aí pensei na dificuldade que é o vestibular para medicina, e percebi que talvez eu não tivesse a vocação/paixão necessária para seguir a carreira. Advogado eu cheguei a pensar em ser, mas aí pensei nos “sapos” que teria que engolir, nas mentiras que teria que forjar, nos “tipos” que teria que defender e percebi que, definitivamente, não teria estômago para a profissão. Empresário eu cheguei a pensar em ser, mas aí vi que a falta de capital era um problema sério a ser pensado e, convenhamos, eu não tenho o mínimo “faro” para os negócios. Político, eu pensei, mas por uma espécie de “pura ideologia e ingenuidade”. Não tinha (e nunca tive) qualquer vocação para roubalheira, corrupção e coisas afins, e, além do mais, político idealista, verdadeiramente comprometido e honesto, não existe em nosso país, e se existe, não é eleito.
            Resolvi, então, deixar a vida me levar, já que só fazer planos não estava me levando a lugar algum. Fiz vestibular para história, com a ilusão de que poderia trabalhar com pesquisa, que poderia ver a ser um historiador, no sentido literal da palavra/profissão, mas vi que a realidade era bem diferente da que eu imaginava. Ser professor de história era algo que me seduziu por apenas algumas semanas, e ao me deparar, pela primeira vez com uma sala de aula e a realidade nas escolas... Acabei me deixando levar por minha paixão: livros. Meus pés acabaram me guiando a uma livraria.
            Hoje, fazendo uma retrospectiva de minha vida em profissões, ou sonhos de profissões, ou de sonhos do que queria ser quando crescesse, me bate uma saudade dos velhos tempos, de meus devaneios, de minhas fantasias, em que queria (e podia) ser tudo que quisesse, e bastava apenas querer para ser, fechar os olhos e responder a pergunta que me faziam: o que você quer ser quando crescer?

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Espera, tempo que não passa, fim inevitável e recomeço impossível


O tempo passa lento, lento como uma eternidade, lento como um câncer que vai se espalhando por um corpo, pouco a pouco, célula a célula, até que acaba por vencer não só a batalha, mas toda uma guerra. É uma espera sem fim, infrutífera, pois o fim já é conhecido, é fato a ser em breve consumado. É como jogar um jogo com as cartas marcadas, em que se sabe não quem vai vencer, mas sim quem sairá como perdedor. É como viver sem esperanças, sem qualquer perspectiva ou sonho, é como não sonhar, como viver num eterno pesadelo, mas com medo de acordar e perceber que se estar acordado é o pior dos pesadelos que se pode ter.
            A espera, a infrutífera espera, é longa, de forma tal que não pode ser medido em tempo e espaço. A espera tem que ser sentida, tem que ser sofrida. Cada célula do corpo tem que sofrê-la lentamente, a dor lenta, adormenta, até que não se sinta mais nada, até que se feche os olhos e se desista de lutar, de sofrer, de perder e de viver...
            Viver... Nunca palavra alguma fez tanto e tão pouco sentido. Viver dói. É uma dor lenta, com a qual nos acostumamos. Não percebemos que é dor, assim como não percebemos que essa é a vida que vivemos. Vida de dor, de perda, de sonhos falsos, de falsas expectativas, de desencontros e de uma eterna espera que ela acabe, numa tela em que vemos, em letras garrafas, a palavra Fim.
            O Fim é algo que demora a vir, que vem em seus passos lentos, arrastados, sem pressa alguma, pois dele não se pode escapar.
            Fim e Início, unidos um ao outro, numa forma de um círculo, de um círculo vicioso, mas de um círculo vicioso que possui, sim, um fim. Um círculo vicioso quebrado, mutilado ante a impossibilidade de um reinicio.
            Reinício... Na vida, não se há a chance de um novo começo, uma nova oportunidade, um reinício. Quando se perde a chance, a oportunidade, o momento, só nos resta esperar, esperar e esperar... Esperar o que há de acontecer devido ao ato não acontecido. Esperar o tempo passar, o tempo que passa lendo como uma eternidade, que se arrasta, para chegar ao inevitável fim, do qual não se pode fugir.

domingo, 11 de setembro de 2011

Apelidos


Todo mundo precisa de um apelido para cada época da vida. Apelido é algo único, que marca um momento de sua vida, do qual você vai se lembrar para o resto da vida, tendo gostado dele (e do momento) ou não.
Apelidos marcam tanto, são tão fortes, que vez por outra acontece até de esquecermos o nome de um amigo de outros tempos, mas o apelido jamais a gente esquece.
Há apelidos que são universais, a que todo mundo conhece uma poção de amigos que os possuem. Cabeção, por exemplo, “que atire a primeira pedra quem nunca teve um amigo cujo apelido é Cabeção”. Eu, pelo menos, perdi a conta de quantos amigos receberam tal alcunha. Quando menino, eu tinha um visinho que se chamava Adonias, mas era raro um alguém chamá-lo pelo nome. Todos os chamavam de Adonias-Cabeção, Cabeção, Cabeça ou coisa do tipo. Chamá-lo pelo nome, apenas, era algo impensável. Também tenho um primo, chamado Thiago, que recebeu, desde pequeno, o apelido de Cabeção. Gordo também é um “apelido universal”. Todo mundo conhece um alguém que tem como apelido Gordo. E não precisava nem se ser tão gordo assim para ser congratulado com ele. Bastava ser só um pouco mais cheinho ou se ser o mais “bem-nutrido” da turma para se receber o apelido de Gordo. Conheço uma poção de amigos que receberam tal apelido, como, por exemplo, lá do bairro onde vivi toda a minha infância e a maior parte da adolescência, tinha o Kléber-Gordo, que na época nem era tão gordo assim, mas, como disse, só por ser o mais “fortinho” da turma, recebeu tal apelido.
Mas fugindo dos “apelidos universais”, há também os próprios, os únicos, a que a gente, hoje, fica imaginando de onde e de por que surgiram, de onde veio tanta criatividade para forjá-los. Tive, por exemplo, amigos chamados Toco, Cádá, Bucho-de-Sôia, Bufinha, o Genipapo e o Jipô, que foram apelidos que se incorporaram de tal forma que ninguém mais lembra do próprio nome das pessoas. Tive amigos “chamados Bicho-do-Mato, Abelinha (!), Ossada, Carrapicho, Batatão, Wandersapo e o Chula. Também tive muitos “amigos-pop-stars”, como o Miqui Jegue (corruptela do Mick Jagger), o Nhonho e até um Derbão (por conta do cigarro Derby).
A mim também couberam muitos apelidos, em diferentes momentos de minha vida, como o Moloide (por conta do jeito eternamente desengonçado), Pata-de-Caranguejo (motivado pelas pernas finas e peludas), Preguiça e Chato (esses eu não precisa justificar). E hoje, mesmo já adulto, ainda lembro com carinho dos apelidos e, principalmente, óbvio, das pessoas, e confesso sentir até uma certa saudade dos tempos em que colocava e recebia apelidos.
Pena que a rotina, o dia a dia, acaba nos tirando esse prazer, pois depois que nos tornamos adultos não mais recebemos e colocamos apelidos em ninguém, pelo menos não com a frequência que o fazíamos em outros tempos. Mas, de qualquer forma, sempre sobra um tempinho e uma oportunidade que a gente agarra com unhas e dentes para apelidar um alguém, nem que seja um professor da universidade e um (a) amigo (a) do trabalho.

domingo, 4 de setembro de 2011

Tenho Medo

Tenho medo de acordar e abrir os olhos, de perceber que já cresci, que deixei de ser o menino que um dia fui, de, ao ver o meu reflexo no espelho do banheiro, não me reconhecer, de me achar um estranho, um intruso em meu próprio corpo, em minha própria vida, de ser simplesmente um estrangeiro.
Tenho medo de me levantar e me descobrir só mais um num mundo com tanta gente, de ser e viver preso em meu dia-a-dia, em minha rotina, de ser um prisioneiro de mim mesmo, de minha vida.
Tenho medo de, ao dar um primeiro passo, me desequilibrar e cair, vindo ao chão, da mesma forma que as minhas esperanças de uma vida de ser um eterno menino vieram.
Tenho medo de enfrentar o dia e de ser derrotado, subjugado por ele, e voltar para casa humilhado, quando o sol se pôr, tão cabisbaixo que sequer teria coragem de olhar para o alto, para o céu e ver que, apesar do sol não mais poder ser visto, o céu está repleto de estrelas, coroado com uma majestosa lua, que nos cobre com sua luz prateada.
Tenho medo de ficar sozinho, de me sentir só, mesmo estando cercado por tantas pessoas.
Tenho medo de, prisioneiro, ficar surdo para os sons do mundo, de não mais ouvir os risos, os cantos dos pássaros ao saudarem o sol num nascer de um novo dia e de não ouvir o barulho da chuva enquanto durmo.
Tenho medo de ficar mudo para o mundo, de não mais sorrir, de não mais falar, pois não teria ninguém para me escutar, para me dar um abraço, para me confortar e dizer que está tudo bem, que tudo não passou de um pesadelo, que amanhã será um novo dia e tudo vai voltar a ser como antes, como sempre foi, como sempre deveria ter sido.
Tenho medo de enfrentar a vida sem esperanças, de cabeça baixa, esperando apenas que o tempo passe e eu continue assim, aqui, com medo.